quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Epifanias que não levam à nada (1)

O que ando fazendo, deixando fraturas expostas calcificarem em praça pública? Carregando no drama e aproveitando uma pseudo-febre como quem aproveita um bloco de carnaval que passa convenientemente em uma manhã chata e quente, eu solto o verbo da coleira, um Galgo rábico que se parte ao meio ao tentar seguir dois ou mais coelhos atrasados para ver suas rainhas vermelhas, que como críticas severas, mandam cortar minha cabeça ao menor sinal de hesitação (minha, nunca delas.). Portanto o crivo de quem me pega em flagrante sempre causa expectativa, mesmo (quasi)ciente de que não há flagrante em algo que já está feito e não há expectativa em algo que vem do Outro. Não gostou, não leve com você em sua tarde atarefada, em suas viagens registradas com sorrisos em papel fosco com borda branca, em sua cadeirinha da Brahma na beira da calçada com a galera, nem em sua própria veia literária. Deixe aqui o que você não quer daqui que aqui também não fica aquilo que você pensa que tem para oferecer. E segue o texto, o registro de algo cotidiano e milagroso, encadeado ainda que mal, e enfileirado como os vagões de um trem cuja última parada é sempre a mesma para todos os homens e do qual eles tentam fugir fazendo exatamente isso: olhando a vista da janela e vendo a si mesmos no reflexo do vidro, pois somos todos por um instante as palavras que deixamos no caminho, até não sermos mais nada além delas. E se por algum acaso outro alguém vier a encontrar-se com elas, nossas palavras, poderemos sentar um pouquinho na janela de outros vagões, com outros passageiros apreciando a vista, pois não é o leitor que experimenta o autor, e sim o contrário.  Este texto não é nada mais que o rastro de gosma de minha mente caramuja. E, sem pedir licença, eu me arrasto um pouquinho pela sua vida.