segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Epifanias que não levam à nada (2)

No princípio, não havia o Verbo, apenas interjeições distraídas de si. Eis que [Linguagem] coloniza [Homem], sem saber o significado de seu ato. [Homem] nada sabe de significados, apenas age. Não são opostos, são metades. São ímãs, ying e yang, Romeu e Julieta, Hitler e Churchill. Juntos, saciam fomes que imaginam possuir, e emulando virais asiáticos, vomitam um na boca do outro livros e pontes, acenos e estrofes, deuses e funerais, profecias e logotipos. Paradigmas erguem-se das profundezas de um oceano cinzento e eletroquímico para depois afundarem como Atlântidas menos metafóricas do que supomos. Nossos nomes são âncoras que nos impedem de, à deriva, cruzar a fronteira de um nevoeiro de signos, enquanto lentamente nos arrastam para fossas abissais, onde escafandros são pálpebras de láudano, úteros que nos privam de nosso próprio parto. Somos uma espécie cômica, ao menos no que toca nos crermos uma espécie, fato portador de uma ironia única e uma verdade ambígua, o único tipo possível. Somos homens e mulheres, colônias de bactérias, impérios de fungos, escombros de cometas e saloons de guaninas vadias. Somos cadeias de carbono e de supermercados, onde putas e larvas empurram seus carrinhos em direção ao caixa, que reluzem nebulosos e vermelhos, certos do retorno de clientes insatisfeitos porque sempre têm razão. Não encontrará aqui respostas para este dilema, nem para outro qualquer: apenas palavras, açúcar para seus olhos. Almas gêmeas de egos pernetas. Moedas tiradas de sua orelha. O que diabos você quiser.