domingo, 31 de maio de 2009

Roda Gigante

Estou por conta. Os canais todos ligados, metade deles, estática e fantasmas. Babel voltaica marretando bifes úmidos. Tribos de memes canibais lutando por supremacia em labirintos de areia movediça. Manchas de terra e sangue em ladrilhos no Olimpo. E então, você entende que é um espelho de frente para outro, refletindo reflexos ad eternum. Metáforas são, como esta, chaves para portas e celas, e você nunca sabe se vai sair por uma ou entrar em outra. E lá está você, eu, todo mundo junto e misturado, Brahma entretido em seu jogo, acenando na esquina, quase um borrão contra a luz de uma tarde cinzenta e dourada de água, bruma e pedra fosca. Um blue movie infantil onde júbilo é lar. Logo na esquina. Não fossem os sons dos carros e dos pássaros, o cheiro do lixo e de sexo, as cores, pixels e ângulos, o roçar dos elétrons, o flerte gravitacional, o gosto da saudade e do raio na sua espinha, você entenderia o que digo. E eu.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

"Making some sense...when there's no sense at all."

Para onde ir agora? Os pulmões funcionam como bússolas ao mostrarem timidez e dúvida. Por vezes sou um poço onde as dores param para beber e depois seguem viagem. Boa viagem. Sinto necessidade de uma forquilha rápido. Logo aparecem guias com suas frases feitas e lanternas made in Bodhi Gaia, e com eles não irei. Como seguir alguém nesse mundo? Como fazer uma coisa dessas, quando o próprio caminho se desdobra diante dos olhos e das unhas, passivos e insondáveis como os olhos dela naquela noite, e kármicos, simplesmente kármicos? Sem guia dessa vez. Talvez a única, talvez na próxima. É hora de voltar a deixar as meias em cima da TV e parar de se observar. Esse botão de foda-se não deve estar funcionando direito, vamos dar uma risada e abrir essa escotilha. O vento lá fora se esfrega em concreto, água salgada e motor, e é só vento. E eu, a sós com sextilhões de estrelas, uma relação desigual, onde minha ignorância é um par de brincos com o qual todas elas se arvoram e se fazem belas. E juntos ardemos em nossa suíte de matéria escura, torcendo lençóis de linguagem e transpirando sinapses, perdendo a própria noção de onde começa um e termina o outro, lembrando: não há nada a perder. Em breve nos despediremos, e deitarei água, watts e merda em mais um dia que começa como qualquer outro: perfeito e átono. E com um sorriso. Agora.

Id-trip

A voz dela, como Danette em minha língua, me empurra para dentro de mim, mas não há luz para mostrar o terreno. A areia movediça que me engole é negra como um céu de tornado e os uivos do vento parecem tão velozes que é um milagre entender que sou eu quem passa por eles, cristais e pedras-pome de vidas engarrafadas em ampulhetas. Sou um meteorito e deixo meu rastro de bobagem carbonizada na atmosfera da noite. Quem me vê faz um pedido, mas não posso dar esmolas cósmicas e não conheço truques de vapor e luz. Sinto compaixão por quem, como tantos eus, depende de um sorriso para sorrir. Aqui não há chão , nem tampouco o que olhar. Apenas bagagem e navalha. Ouço meninas de pijama e monstros padecendo da fome causadas pela seca que eu criei em meu coração-umbigo. Sei cada vez menos até, fatalmente, ser cada vez mais. Ponto da história em que química é música e segundos são apenas um primeiro e único.
Aí eu acordo e dou uma mijada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Posologia: ler

Não comece. Nem tente. Você não vai chegar a lugar algum. Esqueça. Você não é nada. Ninguém. Nem pense. Tudo o que você fez até hoje é lama, merda e carniça. Tudo o que fizer vai virar piada. A única coisa verdadeira em você rejeita o seu próprio nome como se ele fosse lepra. Nenhuma das suas carências vai ser saciada. Nenhuma das suas vontades, atendidas. Você que se foda. Vai sentir fome, frio e vontade de foder debaixo do viaduto na chuva e vai ficar por isso mesmo. Enquanto você insistir em se comportar como um mendigo mimado, não tem conversa.
Ou você pode parar com essa merda e se dar conta das dezessete horas, nove minutos e dezesseis segundos.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

De: pulôver velho

Sinto-me um esquizofrênico ao fazer isso. Mas, já que basta uma única interface para que seja tudo uma imensa mentira, então não importa. Não existe garantia alguma de que iremos nos encontrar, mas existe sempre um quem sabe que arranha o crânio como um homem inocente arranha as paredes da masmorra. E caso seus olhos cheguem a este punhado de fótons embebidos em zeros e uns, saiba disto: você foi amado(a) durante muitos anos. Amou muito e muitas vezes. Ouviu canções que poderiam secar óleos de ódio em engrenagens de morte e dor. Perdeu jóias de valor incalculável, mas soube se contentar com o tempo em que as teve nos dedos. Acima de tudo, quis a verdade, mesmo sabendo que ela não se incomodaria em matar o eu em você. Conselhos são vidas em pen-drives, e eis o meu para você: não deixe a blusa que veste agora fazer você de chinelo. Sua personalidade é nada mais que a sombra dos detritos de sensações que orbitam uma estrela que, ao invés de Hidrogênio em Hélio, funde amor e entendimento em Você. Tudo o que você tem a fazer é deixar queimar.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Rollercoaster

Isto não foi planejado. Sem teorias. Sem ensaios. Apenas a porra do momento presente se fazendo onipresente, esticando seus braços para todas as direções jamais vislumbradas antes, o ponto de fuga encurralado e a coerência com a cueca levantada até o pescoço. "Bom" e "Mau" são loucuras que criamos junto com linhas retas e ampulhetas de Césio 133 e ansiedade. Esquecemos quem somos, não nos conhecemos mais. Olhos não são janelas, são espelhos. Cérebros são úteros e nós somos mães de todos os nomes. Somos uma corja de malfeitores charmosos, prontos para foder com o seu paradigma, como se ele cobrasse 5 pela chupeta atrás da lata de lixo. E vamos que vamos neste teste de Roscharch multicolorido e tridimensional chamado Samsara, Tellurian ou Cobal do Humaitá; o que estiver rolando no momento. A roda gira desde sempre. E você tem que se virar com o que acabou de dizer, cada olhar, gesto, exalação e canção atingindo todo o resto como a um cometa, causando destruição sem precedentes e trazendo vida, cores em telas de papel e luz. A raiva que você sente, o seu cheiro de suor, a sua difculdade em estar nas coisas mais bobas, os acordes que você implora para calarem todo o resto, todas essas coisas estão aí e sempre estiveram, mas você nunca as viu. Você nunca existiu antes desse exato instante, e apesar disto, você se lembra. Lembrar é pegar emprestado a juros exorbitantes: sua própria história. E os agiotas logo quebram suas pernas como somente os melhores anjos da guarda são capazes de fazer. Você e eu, somos eventos breves demais para qualquer um ter certeza de que existimos de fato, não podemos vacilar. Precisamos transformar nosso chumbo em ouro. Precisamos de fama. Precisamos ficar. Precisamos virar o jogo. Precisamos de velhos milagres, que ofusquem quasares e transformem nossa fome em pães, peixes e sorrisos. Precisamos de um Gran Finale. Precisamos começar.