sexta-feira, 19 de junho de 2009

Flux

Você consegue sentir todas essas mortes? O cheiro de carniça e placenta, trocando turnos, entrelaçando-se, elípticos, fundindo-se como zigotos perfeitos, tomados de paixão furiosa a ponto de explodirem em sangue e luz, parindo o próximo e único instante, mortalmente ferido. Você consegue ver algo assim? Você, a consequência de todas as coisas mortas e inatingíveis que em um dia de ficção já pisaram neste mesmo chão, e a causa de todos os momentos-siameses que, ainda no ninho, mastigarão uns aos outros até que reste apenas um, você. Seus atos, querosenes em lampiões, jogam luz na neblina, iluminando de forma difusa e cegante o próximo passo-parto. E, cada vez mais sábio, você sabe menos, faz pior, acumula bagagem, histórias, dna, passado, momentum. E no borrão do seu discernimento, você sacrifica sua própria divindade por um contexto fácil, um claustro onde ri e chora com a benção de um porquê. Deixe disso, seu amontoado de cabecinhas ocas. Olhe para o céu à noite e entenda que você não tem absolutamente nenhuma relevância diante de todas aquelas galáxias. Mas, por outro lado, é a única coisa que confere a elas algum significado. Seu presente para o universo. É belíssimo, obrigado.

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