terça-feira, 23 de setembro de 2008

Metafísica para picaretas

“Século escorre, Aeon expira.

Pior é que vosmecê acredita.

Foi, seria e será; enfim, oxalá.

Prestidigitação cósmica, estelar.

Segundos, minutos, anos e dias.

Hydras, medusas, quimeras sortidas.

Atrasam, apressam; prontas mordidas,

Mastigam, devoram mentes falidas,

Prometem sorrindo, futuros cifrados.

Alva bruma em glorios'aurora,

Turva, embaça a luz – e a gente gosta.

Saibas que não há meses nem eras:

apenas és.”

Barão de Tinguely, Cartas A Se Queimar, 1881.



Não quero ver o sol nascer com você. Não quero fazer um piquenique à sombra de um velho carvalho importado de algum filme Americano diabeticamente romântico em seus sonhos. Não quero segurar uma criança nos braços e, ao olhar para você, sorrir emocionado, pensando que tenho no colo não o meu, mas o nosso filho. Não quero, após uma briga feia causada por um projétil perdido em nossa então costumeira troca de tiros vocabulares, dançar com você a velha macareña rancorosa, desesperada e sôfrega do sexo de reconciliação, o bom e velho fio verde cortado, de uma bomba relógio que sempre volta a se armar. Não quero me apaixonar por você de novo, após 30 anos de alegrias e frustrações, mas sempre achando que valia a pena tentar mais um pouco. Não quero sequer me apaixonar por você semana que vem, ao me dar conta de que aquela morena da próxima noitada é gata, está me dando a maior condição, pode virar uma foda depois das 3 da manhã e de 4 tequilas, e mesmo assim não consegue afastar você dos meus pensamentos. Não quero, enfim, nada que não esteja acontecendo neste exato momento, que não passa de mim, você, dessa varanda bendita que nos salvou da barulheira da festa lá dentro e desse cheiro de Dama da Noite do jardim lá embaixo. Minha mente está aqui, com você e comigo mesmo, tomando um mojito e olhando nos seus olhos, jamais sentado em uma poltrona confortável, zapeando por centenas de televisores com seriados românticos e dramalhões mexicanos protagonizados por duas pessoas que, forçando muito a barra, possuem leve semelhança conosco, se perdêssemos completamente o bom senso e comprássemos carapuças Made In Merda Na Cabeça. Não tenha medo, estou aqui para salvá-la desses pensamentos turbulentos. Aqui estou, cavaleiro andante que sou, para puxá-la do vórtice, do rodamoinho que rasga sua alma com estilhaços de meninas mais bonitas que você, passeando com namorados que nunca lhe pegarão na saída da aula de francês, ou quem sabe de uma tarde de sol onde você ficou triste sem querer e colocou a culpa na falta de um pezinho esfregando-se no seu debaixo do edredon. Ande, estique sua mão, segure firme na minha e tudo ficará bem.

Isso mesmo.

Enfim sós.

_E aí, nenê? Qual o seu nome? Tem namorado?

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